Há uma luz que nunca se apaga


sábado, 14 de agosto de 2010

A Espanha onde eu não vivo

Vivo na Catalunha, nobre região pertecente (ainda) a España. Aquí há já muitos séculos que se luta pelo reconhecimento da palavra nação. Dado este horizonte temporal se estender há já tanto século, a Catalunha pura começou também ela a sofrer influências de fora, embora sem nunca perder a sua indentidade e cultura.

Dada a pobreza existente no sul de Espanha nomeadamente na zona da Andaluzia, consequencia entre outras coisas, da guerra civil, muitos deixaram a agricultura e emigraram rumo ao trabalho excendetário existente no norte. Assim se justifica a existencia hoje em dia de tantos andaluzes na Catalunha. Com eles veio uma alicerce fulcral na cultura Espanhola – o flamenco. OLÉ!

O Flamenco tem origens no seculo XVIII e difunde-se sobretudo pela etnia cigana. Após vários anos e várias fases atinge o seu apogeu no início do século XX e juntamente às corridas de touros, às tapas e a Cervantes é o grande embaixador de uma das mais influentes e divulgadas culturas em todo o mundo, a espanhola. Como em qualquer género musical existe uma referência, no flamenco existe Camarón de la Isla. É sobre ele que vos vou falar hoje.

Camaron nasce Cádiz em 1950 pertencente a uma familia cigana de oito irmãos. Na adolescencia e face à sua cor de pele ser bastante clara em relação à etnia à qual pertence surge a alcunha de Camarón. Isto aliado ao facto de viver na Isla de León (San Fernando) na baía de Cadiz, faz com que Camarón automaticamente passe a ser o “Camarón de la Isla”.

Como qualquer rapaz proveniente destas origens, não se pode dizer que tenha sido rico em estudos. Cedo deixou a escola para ir ajudar o seu pai no trabalho que tinha num aldeamento rural que era visitado por muitos "cantautores" flamencos da altura. Isto começou, naturalmente a despertar curiosidade ao pequeno rapaz, que aos 7 anos e após a morte do seu pai, já cantava de forma esporádica em algumas tabernas locais. Aos 12 anos ganha o festival de flamenco de Córdoba, ao que se seguem dois anos a cantar por feiras na Andaluzia, seguindo-se a Europa e América. Aos 16 anos muda-se para Madrid e tem o primeiro contacto com Paco de Lucia. Este automaticamente reconhece o seu talento e não tem dúvidas a apelidá-lo de génio com uma voz e sentimento para o flamenco jamais visto até então. (“Los mejores momentos de mi vida los he pasado con Camaron” Paco de Lucia)




Grava com Paco de Lucia e durante anos produzem albuns como "Al verte las flores lloran" (1969), "Cada vez que nos miramos" (1970), "Canastera" (1972), "Caminito de Totana" (1973), "Son tus ojos dos estrellas" (1973), "Soy caminante" (1976), "Rosa Maria" (1976). Foram anos dourados em que o flamenco ultrapassou as fronteiras de Espanha, chegando aos 4 cantos do mundo.







Em, 1979 lança a solo “La leyenda del tiempo” o seu album mais mediático. Gravado em Sevilha, mistura o flamenco com jazz e rock e revoluciona uma vez mais o flamenco de uma forma impressionante. Torna o flamenco audível a todos, mesmo aos que não gostam de flamenco. Ultrapassa barreiras e torna-se exactamente naquílo que o album expõe na capa – Numa lenda do tempo.
É durante esta altura que surgem os êxitos “Volando Voy”, “Viejo Mundo”, “Nana del Caballo Grande”, e mais verdadeiras pérolas de esta sonoridade completamente nova e revolucionária.

La Leyenda del Tiempo (Album):






Com Paco de Lucia outra vez e juntamente a Tomatito, outro grande guitarrista, seguem-se os albuns “Como el Água” (1981), “Calle Real” (1984), “Vivere” (1984) e “Te lo dice Camaron” (1986). Dá três concertos memoráveis em Paris no ano de 1987, que são o culminar de uma década de 80 cheia de experimentações e apostas ganhas. Camarón é, nesta altura, o maior artista espanhol da sua geração.



Em 1989 surge outra vez a solo com “Soy Gitano”, o album mais vendido de sempre na história do flamenco (primeiro disco de ouro em Espanha com 50.000 cópias). Em 1992 volta a gravar com Paco de Lucia, que, em conjunto com Tomatito dão à luz “Potro de rabia y miel” - o ultimo album da sua vida.

Camarón foi um grande artista, e como muitos grandes artistas, tinha vícios. Além de um recorrente à heroína durante a sua juventude – droga que deixou de lado já no final dos anos 80 – Camarón tinha uma relação de extrema dependencia perante o tabaco. Fumava cerca de três maços de cigarro por dia, o que lhe provocou vários problemas. Foi-lhe diagnosticado um cancro no pulmão já no inicio dos anos 90. Nesta altura Camaron vivia em Barcelona. Morreu aos 41 anos, tendo hoje uma estátua na sua cidade natal. Morreu deixando um legando infinito de obras e de registos dos quais o flamenco jamais se poderá de dissociar. Camarón de la isla é flamenco, Camarón de la isla é España.

Em 2005 a sua vida é feita filme de seu nome “Camarón” - o tema do trailer é “Soy Gitano”. OLÉ!

1 comentário: