Em face da trágica estreia do Benfica no campeonato, ontem não houve Bloody Sunday (ou se calhar até houve, mas não no sentido que mais me agradaria...).
Pois é; depois daquele balde de água fria que os Laionels e Júniores Paraíbas desta vida nos derramaram em cima, restou-me recolher aos lençois, fechar-me em posição fetal e aguardar que a azia passasse, rezando para que o Peixoto não volte a calçar no meio campo do Benfica.
Mas sou adepto da filosofia de que até nas maiores tragédias devemos procurar algo de bom. Assim, nesse estado semi-comatoso de quem acaba de levar uma tão inesperada quanto violenta vergastada nos dentes, enfiei-me no carro do meu pai para o trajecto estádio-casa, tentando encontrar algo que me animasse, ou que pelo menos me permitisse alhear da neura de uma derrota em casa em jogo de estreia.
Fechei os vidros, liguei o a/c, calei a TSF e o anticlímax das conferências de imprensa, e liguei o cd. Lá dentro estava um dos primeiros álbuns de que tenho memória: DallAmeriCaruso, de 1986. O Autor: Lucio Dalla.
Pouco sei da vida do homem. Sei (pela wikipedia) que começou por tocar jazz; que o seu primeiro disco data da década de sessenta; que continua a editar novos álbuns (não sei se originais ou best of dos best of) e que nasceu em Bolonha há 67 anos atrás. Sei que com uma versão de um tema seu (caruso) o Pavarotti vendeu milhões de discos. Sei também que tem a idade do meu pai e que para sempre confundirei o tom dos assobios de um e do outro. Desde criança adoro o ritmo das suas músicas, a sua voz quando arranca para rotações mais elevadas, e a cadência e a entoação das palavras cantadas em italiano.
Em suma, para além de me fazer recordar tempos em que não tinha de esperar meias décadas para ver o Benfica campeão, Lucio Dalla faz-me lembrar os primórdios irracionais da minha relação com a música. Acho que nunca me cansarei de o ouvir.
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